DAVA GOSTO VIVER NA ALDEIA
Longe vai o tempo em que na minha aldeia a agricultura era a actividade principal ocupava a maioria do povo passando de pais para filhos. As famílias viviam essencialmente do cultivo da terra no acreditar de uma boa colheita e criação de animais. Trabalhavam do romper da aurora ao por do sol, com amor à terra, guiados pelas Trindades que batiam no sino da igreja, confortados pela pureza do que produziam.
Sentimentos que Miguel Torga (Chegou a viver na freguesia) contou nos seus escritos e poemas destacando a elevação da terra, do lavrador e do pastor.
Do cimo da aldeia viam-se: montes, prados e vales cobertos pelo manto verde das culturas das oliveiras e outras árvores de fruta, searas de trigo e centeio o crescer do milho do feijão das abóboras, meloas, melancias tomate, pepinos, cenouras, couves e tantas outras. As cores de Outono lembravam os magusto de comunidade, o Inverno a tristeza da aldeia.
Dava gosto colher o leite das cabras e ovelhas algum bebido na hora, outro misturado com café de mistura ou cevada e broa de milho migada na tigela. Com a adição de cardo (planta) ou coalho (feito com o bucho dos cabritos) ainda se faziam saborosos queijos alguns comidos frescos, outros secos na loja em cima de tábuas.
Colher o mel das abelhas nos cortiços que se encontravam na encosta da serra, servia para adoçar, curar constipações e outras coisas mais.
Era monótono passar dois e três meses à lareira, Invernos muito frios e chuvosos quem ganhava mais uns trocos era o taberneiro (por acaso meu avô) ai se jogava às cartas, fito e sapo, vendia mais uns copos de vinho ou bagaço figos secos, tremoços umas latas de conserva de sardinha envolvida com bastante cebola, vendia ou trocava por ovos ou azeite mais 100g de açúcar,20g de colorau, 50g de café,75gde bacalhau meio litro de petróleo para a iluminação lá de casa etc.
Dava gosto ver e ouvir o carro de bois puxado por um ou dois bois transportando a charrua, grade, bouçais, cangas e outros acessórios necessários a um dia de lavoira, dura missão do amanho da terra.
Dava gosto ver as parreira e corrimão de videiras com suas redondas uvas produtoras de vinho, a preparação das velhas pipas de madeira de castanho, o ranger do velho esmagador esmagando as uvas, o néctar vai caindo dentro da grande dorna, obrigatório tirar alguns litros juntar aguardente mexer por algum tempo e passados alguns meses provar a jeropiga.
Tirava-se o vinho pelo furo feito na dorna que passava para um funil cheio de carqueja para não passarem as sementes e um pedaço de toucinho para tirar a espuma do cimo do cântaro, este tinha um buraco nível medida certa. E o cheiro dos alambiques de cobre a elaborar aguardente, do bacalhau assado com batata a murro e cebola.
Dava gosto ouvir os cantos nas desfolhadas do milho, nas descamizadas no malhar do trigo e centeio nas eiras, os vários grupos na altura da quaresma, grandes ranchos no Carnaval, concertinas, flautas, ferrinhos e tambores. Que maravilha ouvir o canto das aves o cacarejar das galinhas o cantar do galo o roncar do porco o berrar da ovelha o mugir do boi. Dava gosto ver imensas novidades da terra bênçãos da natureza cuja pureza não tinha comparação com os produtos de hoje.
Que alegria brincar no largo do fontanário e no terreiro da escola jogava-se ao pião ao arco à malha as escondidas ao botão ao berlinde estávamos no ano de 1967 e a minha mãe chamava bem alto:- zé está na hora.
Das quatro classes 38 alunos uma professora, recebida no início do ano com cortejo de boas vindas com ofertas principalmente de batatas, feijões, azeite e ovos, ficava hospedada numa casa da aldeia. Pela casa de meus pais passaram duas, por mês pagavam:
Primeiro ano150 escudos no segundo 200 escudos usavam o fogão, serviam-se dos candeeiros a petróleo, para beber água do cântaro de barro, para as necessidades higiénicas água do reservatório. Recordo que a leitura e a renda eram seus passatempos. Dava gosto muito mais coisas, também tristeza outras.
Dava gosto. Nos dias de hoje desgosto ver os montes, vales, prados abandonados desérticos cobertos de tristes matagais e ervas daninhas. Mas como escreveu o poeta Luís de Camões num dos seus sonetos.” Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”
Era duro levantar as quatro da manhã para guardar a água do poço para regar a horta de manhãzinha, ir com uma enxada para as encostas da serra roçar mato (almoço só batatas cozidas) para fazer a cama aos animais e dai sair o fertilizante para as terras.Era duro levantar de madrugada caminhar quilómetros a pé com vento chuva e frio dias e dias para apanhar azeitona, ordenados de miséria, ir para a escola passar um dia com duas sardinhas e um ovo cozido. (Aqui uma louvor aos meus pais).
A minha aldeia
faz parte da composição do:
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Distrito de Coimbra
|
Recebeu foral de D.
Afonso Henriques a 19 de Novembro de 1136. Vila do
distrito de Coimbra com 126.38Km2 (Inst.G.Port.2013) sede de Município. Situa-se
a 131mde altitude, na encosta de um monte, a oeste da serra do Espinho na margem direita da
ribeira da Dueça, afluente do Ceira, envolvida a S e a E por uma série de
montanhas que oscilam entre os 661m e os 927m de altitude. Atravessada pelo rio
Ceira, Dueça e Alheda. Feriado municipal 1 de Junho (Nascimento de José
Falcão) Subdividida em quatro Freguesias Miranda
do Corvo, Lamas, Vila Nova, Semide e Rio de Vide.
Freguesia de Vila Nova
Possui uma
área aproximada de 29,61 Km2, a maioria dos quais localizada na encosta sudoeste da serra da Lousã, confinando com
os concelhos da Lousã, Penela e Figueiró dos Vinhos. Fazem fronteira com Vila
Nova as Freguesia de Miranda do Corvo, Espinhal, Santa Eufémia e Campelo. Compõem, actualmente, a freguesia os lugares de
Albarrol, Barbéns, Besteiros, Cadaval, Cardeal, Carvalheira, Casalinho,
Caseiros, Corga, Corujeira, Favais, Giestal, Gondramaz, Lomba do Rei,
Meroucinhos, Pisão, Quinta do Soito, Sandoeira, São Gens, Senhora da Piedade,
Souravas, Supegal, Tapada do Campo do Mouro, Torno, Vialonga, Vila Flor, Vila
Nova e Zorro.http://www.freguesiadevilanova.eu/home.php?t=ct&c=12
CASALINHO
Aldeia onde nasci passei parte da minha vida, nunca vou esquecer.
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